sábado, 16 de maio de 2009

Recebi o texto abaixo reproduzido e atribuído a Martha Medeiros há alguns dias. Ao começar a leitura tive a impressão que alguém, finalmente, poderia lançar um alento sobre a vida da mulher moderna. Ledo engano...acabei a leitura ainda mais frustrada que antes.

A sensação de que não consigo alcançar nem metade das metas que as "superpoderosas" conseguem me atingiu como um raio. Não bastam os modelos de beleza inatingíveis expostos diariamente pela mídia, agora tenho um modelo de comportamente inatingível também.
Dentro da rotina diária de trabalho, filho pequeno, casa, marido, etc, não me sobra tempo para a academia, para o escrever o quanto gostaria aqui, para os tratamentos de beleza, enfim, para nada....sempre que tenho um tempo livre, tenho mais coisas pra fazer do que o tempo permite.
Isso vai trazendo uma insatisfação intensa, prejudicial.

O fato é que independente de dizer não para muitas coisas - eu uso a técnica de tirar os óculos: assim não vejo direito o que ficou sem fazer, a poeira na sala, etc - já tive que dizer não para muitas coisas. Já disse não ao maior luxo da mulher que trabalha fora por pura impossibilidade financeira: empregada doméstica.

A realidade apresentada pela autora é para poucas: "abrir mão da bolsa Prada ou do batom MAC"? Não se abre mão do que nunca se teve...nem sei quem é Philipe Starck.

Alguns nãos na vida da maioria das brasileiras significa abrir mão de carne no almoço. Ou a Sra. pensa que a empregada que limpa sua casa trabalha para comprar coisas para ela? Até mesmo a secretária em seu escritório fica esperando você liberá-la após uma reunião interminável que adentrou a noite para ir pra casa lavar a roupa que a espera e preparar o jantar para bocas famintas.

Você diz que a mulher moderna está muito antiga. Eu penso mesmo é que muitas adorariam voltar à maneira antiga e se limitarem ao lar, pois a modernidade só trouxe a algumas é mais serviço. Trabalhar fora se tornou obrigatório para sustento do lar. Mais de 26% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

As mudanças sócio-econômicas ocorridas nos últimos tempos têm obrigado muitas mulheres a partirem para o mercado de trabalho não por opção própria mas para ajudar no sustento familiar, na luta pela sobrevivência. Isso porque sabe-se que prevalece no Brasil a cultura machista e o serviço doméstico é pouco dividido principalmente nas camadas mais pobres. O trabalho fora de casa vai acumular...e não tem como dizer Não.

Na outra extremidade estão as workaholics bem sucedidas que tem acesso a todos esses bens, mas realmente não podem abrir mão do excesso e dizer não. Porque o mercado de trabalho, cada vez mais exigente suga. Quer o máximo e mais um pouco. Não há meio termo. Não há como arrumar um emprego e dizer: vou trabalhar só meio período, está bem?

O desafio está lançado. As mulheres apresentam doenças antigamente masculinas e não é à tôa: a exigência no mercado de trabalho sobre a mulher é a mesma, mas ela ao chegar em casa iniciar o 2º round...até Deus descansou no 7º dia. E no domingo, a chefe da família vai mesmo é pro fogão fazer o almoço esperado ainda mais caprichado, afinal neste dia - eles dizem - ela tem tempo.

E depois eu é que sou chata.


MULHERES POSSÍVEIS...
(Texto da Revista do Jornal O Globo)

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a miss Imperfeita; muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.
Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy
e muito mais livre para ir e vir.
Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philipe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante
."

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